Não, eu não estou abandonando nada nem ninguém.
Estou apenas deixando o caminho livre e assim também,
de certa forma, me libertando.
É que chega uma hora que cansa mesmo,
não da animo de levantar todos os dias no mesmo horário
e fingir que está tudo bem,
sorrindo pra todo mundo que passa, assim como eu to fazendo agora.
Enfim, tento não pensar muito nisso agora, apesar de saber que isso é meio que inevitável.
Esse pensamento é típico daqueles em que mesmo que a gente tente não pensar,
sempre vem alguém e toca no assunto, sabe?
Pensarei nisso amanhã, quando eu pegar minha mochila,
esvaziar o armário e as gavetas que foram minhas durante todo esse tempo.
O fato é que eu deixarei muita coisa pra trás e de todas as direções que eu tenho pra olhar,
pra trás é a que menos me agrada.
Evitarei ao máximo os abraços e beijos de despedida,
isso é hollywoodiano demais pra mim.
Quero ir embora e esquecer-me desse lugar.
Mas não quero que isso soe como um adeus, você me entende?
É que na verdade, nunca é um adeus mesmo:
a gente sempre se vê por ai na rua, no banco,
num taxi, na fila do mercado e tal.
Na verdade, saio daqui com um alivio e ao mesmo tempo,
com um peso na alma, sei que é tenso e tudo o mais,
apesar de pensar que depois virá o alívio.
Tento não pensar nos “e se” que tentam invadir minha cabeça
agora que as decisões já foram tomadas
e nesse momento qualquer ato de renuncia já se pronuncia tarde demais
Então eu vou, sem muita coisa nas mãos,
mas asseguro que com a cabeça cheia de coisas,
dentre essas coisas,o conhecimento,
que na verdade sempre foi o intuito da minha permanência aqui.
É isso.